sábado, 11 de abril de 2009

Artigo - Gilberto Amaral



A Lei da Verdade
Há 56 anos, sem diploma, exerço a função de jornalista. Nunca, jamais, em tempo algum, tive um processo contra minha pessoa. Não tenho e não vou ter diploma de jornalista, porque a idade já não me permite, tal qual os maiores nomes da Imprensa Brasileira. Sempre fui e sou contra a faculdade de jornalismo. O jornalista já nasce para a profissão. É claro que, precisa saber ler, escrever e ter bom senso.

Patrulhamento
O meu amigo e respeitado professor e jornalista Carlos Chagas, contou-me que quando das eleições de 89, numa de suas aulas, resolveu simular uma prévia com os seus alunos. Quando veio o resultado, entre os mais votados candidatos, apareceram 2 para Fernando Collor. Uma das alunas, revoltada, levantou-se furiosa, foi até a frente dos seus colegas e em voz nervosa, e em altos bravos, interpelou quem tinha votado em Collor. Na hora, dois rapazes levantaram e responderam: ?fomos nós, e daí??. Chagas me contou indignado com o que havia ocorrido.

Dignidade e verdade
O jornalista, principalmente o que pratica hoje na grande imprensa, não é como nos grandes países, onde se noticia o fato, a verdade, sem acusações inverídicas a custa do sensacionalismo para vender jornal. Quando a notícia é positiva, não interessa aos jornais e nem as revistas semanais. Sempre pautei meu jornalismo na informação segura, honesta, criticando na hora de criticar, para que o erro seja corrigido. Nunca tripudiei ou acusei sem provas, quem quer que seja. Aliás, nunca acusei ninguém. Só promovi.

Com a palavra o Supremo
Hoje, o Brasil tem uma liberdade de imprensa incomum. Escrevem o que desejam. Acusam quem quer que seja, sem provas. Depois vem o direito de resposta, publicado num cantinho do jornal, quando a acusação foi capa de revista ou manchete do jornal. Que custaria aos senhores ministros, ouvirem as partes, os mais antigos, os independentes, os corajosos, os que relatam o fato sem ódio no coração. Ministro conhece lei. Jornalismo, não. Com todo o respeito, o meu amigo e relator, presidente Ayres de Britto, é um profundo conhecedor de leis, grande poeta, e com sua inteligência, deve ter sido um jornalista nato. Aliás, o jornalismo é um dom que qualquer um pode ter, com ou sem faculdade.

O diploma de jornalista
Como presidente de Honra da Febracos - Federação Brasileira de Colunistas Sociais, estou sentindo o apavoramento dos colunistas do interior, que escrevem no jornal contando as festas, os casamentos, os aniversários, os namoros, mostrando as fotos e sem a mínima possibilidade de tirar um diploma devido a falta da faculdade.
Vão ficar sem pai e nem mãe, pendurando sua maquininha ou seu computador, deixando de alegrar a cidade com as suas notícias nos jornais semanais. Se vão mudar a lei, que o façam de agora em diante, para que os colegas das mais distantes cidades , possam fazer o que gostam, alegrar os moradores que formam uma sociedade, felizes com suas vaidades. Pensem nisto, senhores ministros.

Esfera penal
Que eu me lembre, nunca vi um jornalista ir para a cadeia por causa de uma notícia ou acusação inverídica. Não incluo aqui a época dos governos militares, onde as prisões tinham outros motivos, além da notícia. A última prisão, que tomei conhecimento nestes últimos anos, foi a do jornalista Pimenta Neves. Mas, por assassinato a sua namorada.
Com todo o respeito que tenho pelos senhores ministros da nossa Suprema Corte, não poderia deixar este assunto martelando na minha mente, sem poder expressar a minha opinião. Afinal de contas, já ultrapassei a idade da compulsória e nada pior, você ter um pensamento, uma idéia e não ter coragem de expô-las.

* (Gilberto Amaral de Brasília, DF, Jornal de Brasília
gilberto@gilbertoamaral.com.br

Nenhum comentário: